sexta-feira, 31 de março de 2017

Despejado




           Descia a ladeira cambaleando, tropeçando em algumas pedras pontudas. A cada tropeçada seguia um palavrão. Um gato cruzou-lhe a proa e tomou um chute de través. Gritou agonizante tão alto que chamou a atenção de um grupo de mulheres que conversava na frente do portão de um sobrado. – Cruel! – Ele parou e se virou para elas e mostrou-lhes o dedo médio em riste, dizendo desaforos. – Cruel! - Dois homens apareceram na sacada e o ameaçaram com pistolas. Ele correu e terminou a descida da ladeira rolando. – Filho da puta! – Se não fosse a anestesia do álcool certamente não levantaria como se levantou, claro que o álcool recebeu a ajuda das ameaças dos homens com pistolas. Certamente, amanhã as dores e os inchaços apareceriam. Continuou seguindo pela rua mal iluminada, esbarrou numa lata de lixo e com ódio a chutou, espalhando todo o lixo que estava nela. Alguns ratos e algumas baratas corriam no meio do lixo e ele começou a pular. Pegou um pedaço de cabo de vassoura e conseguiu acertar um rato. O rato guinchou e o sangue espirrou. Ele deu uma gargalhada de satisfação. As baratas ele pisoteava como um deus enfurecido com sua criação. Na esquina havia um boteco aberto, parou, chegou ao balcão e pediu cachaça. O balconista recusou servi-lo dizendo que já iria fechar. – Sua cara não tá boa, amigo, vá para casa! – Ele gritou, ameaçou e foi impedido por alguns homens que bebiam. Ele chutou um, outro e mais outro. Aqueles homens não eram como ratos ou baratas, revidaram e o chutaram com bastante violência do bar. Seu estado estava mais degradante. Não tinha para onde ir. Ritinha o chutara de sua casa, pois decidiu não suportar mais o namorado sempre bêbado. Naquela noite quando subia a ladeira já alcoolizado encontrou no portão o irmão de Ritinha que o colocou para fora a pontapés e disse. – Acabou, seu merda, não volte mais aqui! Agora estava num pequeno mirante que tinha uma parede rochosa. Deserto. Olhou lá para baixo e calculou a queda. Uma última lucidez veio-lhe à mente e se atirou. 

A primeira edição

          Assim se deu o diálogo entre dois velhos amigos: - É apenas um livro. - Não, não é apenas um livro, mas a primeira e...