quinta-feira, 23 de março de 2017

Casa Velha [dois]




            Consegui me despedir da Casa Velha, mas deixei as minhas reticências no adeus. Peguei a última órbita que orbitava, mas eu permanecia o mesmo.

 [ e dane-se! O devir de Heráclito! Não sou um rio! Sou o universo todo! ]

A Casa Velha permanecia em mim. Todas as letras que consumi de seus livros formaram e incomodam ainda minha mente. Não tenho como me livrar da Casa Velha, mas precisava ir lá e pelo menos zombar do velho. Na verdade queria ter dito mais, mas como os escritores subterrâneos deixarei aqui o que queria dizer ao velho, para que no futuro alguém possa saber.


[Eu não sou mais o mesmo, velho. Mesmo sendo o mesmo de sempre. Mudei, mesmo mantendo as mesmas ideias. Eu não estava falando por parábolas, não tenho essa habilidade nazarena, mas falava do que em mim era como uma comichão. Ainda é. E a culpa é de cada um, velho. Quem busca culpa fora de si é um covarde mentiroso. Por isso o Batista e seu discípulo pregavam: arrependei-vos! Nosso pecado não é contra o deus hebreu, mas contra nós mesmos. O nazareno queria dizer isso, mas não temos coragem para admitir, então criamos ritos, mitos, lendas, religiões, filosofias. Velho, me despeço de mim mesmo, desse eu-mesmo tosco e covarde para ser o eu-mesmo autêntico. Por isso disse que não sou mais o mesmo, mesmo sendo o mesmo. Talvez você não entenda, talvez você entenda; não importa, enquanto o medo estiver entranhado em você, neles, não adianta. Adeus, Casa Velha! Adeus, velho! Me distancio agora para me manter perto. Zombo da biblioteca e de seus livros da Casa Velha para poder respeitá-los. Zombo do Livro para entende-Lo]

A primeira edição

          Assim se deu o diálogo entre dois velhos amigos: - É apenas um livro. - Não, não é apenas um livro, mas a primeira e...