Consegui
me despedir da Casa Velha, mas deixei as minhas reticências no adeus. Peguei a
última órbita que orbitava, mas eu permanecia o mesmo.
[ e dane-se! O devir de Heráclito! Não sou um
rio! Sou o universo todo! ]
A Casa Velha permanecia em mim. Todas as letras que
consumi de seus livros formaram e incomodam ainda minha mente. Não tenho como
me livrar da Casa Velha, mas precisava ir lá e pelo menos zombar do velho. Na
verdade queria ter dito mais, mas como os escritores subterrâneos deixarei aqui
o que queria dizer ao velho, para que no futuro alguém possa saber.
[Eu não sou mais o mesmo, velho. Mesmo sendo o mesmo
de sempre. Mudei, mesmo mantendo as mesmas ideias. Eu não estava falando por
parábolas, não tenho essa habilidade nazarena, mas falava do que em mim era
como uma comichão. Ainda é. E a culpa é de cada um, velho. Quem busca culpa
fora de si é um covarde mentiroso. Por isso o Batista e seu discípulo pregavam:
arrependei-vos! Nosso pecado não é contra o deus hebreu, mas contra nós mesmos.
O nazareno queria dizer isso, mas não temos coragem para admitir, então criamos
ritos, mitos, lendas, religiões, filosofias. Velho, me despeço de mim mesmo,
desse eu-mesmo tosco e covarde para ser o eu-mesmo autêntico. Por isso disse
que não sou mais o mesmo, mesmo sendo o mesmo. Talvez você não entenda, talvez
você entenda; não importa, enquanto o medo estiver entranhado em você, neles,
não adianta. Adeus, Casa Velha! Adeus, velho! Me distancio agora para me manter
perto. Zombo da biblioteca e de seus livros da Casa Velha para poder
respeitá-los. Zombo do Livro para entende-Lo]