Cheguei
até a entrada. O prédio não mudara nada, apenas uma tinta nova disfarçava sua
idade centenária. O pátio continuava acolhedor com suas imensas e temíveis
mangueiras. Na época de manga era um perigo ficar debaixo delas. Lembro que
certa vez um professor foi atingido em cheio por uma, desmaiou na hora. O que
tinha de novo eram as pessoas e as ideias. Essas sempre mudam. Vi um grupo
debaixo de uma das mangueiras que lembrou meu grupo do fim dos anos 90 do
século passado.
No prédio principal fui interpelado
pelo velho. O velho perguntou quem eu era e respondi que era um ex-aluno. Não
lembro de você, disse-me o velho. Nem eu de você, respondi. Sou o atual
diretor. Prazer. Prazer. Veio matar a saudade? Não, apenas me despedir. Despedir?
Você já não fez isso? Não, não fiz. Precisava fazê-lo. Procura alguém em
especial? Não, até porque a despedida não é a alguém, seja vivo, seja morto;
mas a esse lugar. Ele é especial? Sim. O que você faz? Nada que tenha a ver com
isso aqui, mas foi aqui que tudo começou. Foi aqui que a minha vida começou a
dar voltas diferentes. Você quer dizer: “seguir”. Não, velho, quero dizer
voltas. A minha vida é uma órbita, ou melhor, várias órbitas. Umas longas,
outras menores. Umas se alongando, outras encurtando. Mas o impulso que elas
tomaram foi daqui. Mais propriamente da biblioteca desse lugar. Preciso me
despedir dela, pois a ultrapassei. Preciso me despedir desse lugar, pois o
ultrapassei. Entende, velho? Estou orbitando por lugares diferentes e bem distantes
desse lugar. As minhas órbitas não tangenciam mais esse prédio, nem a
biblioteca, nem as mangueiras. Arrisco-me nesse momento em perder a sequência
de minhas órbitas, mas precisava vir. Tá bom, então se despeça. Tá, adeus...