a Edmondo Amicis
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Você pode ser um tremendo cafajeste, mas não pode deixar de ter coração!
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Como assim? Cafajeste com coração? Você fala do sentimento ou do órgão?
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Isso mesmo, falo do sentimento que vem do órgão.
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Ah, isso é poesia!
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Não, não é poesia, meu amigo.
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Como não? Os sentimentos vêm do cérebro e não do coração.
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Engano seu, engano seu. Diante de uma injustiça o que lhe dói: a cabeça ou o
coração? Onde você sente a pontada? O que acelera: o cérebro ou o coração?
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Ah, mas o coração acelera como reflexo provocado pelo cérebro! Isso é poesia!
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Não, meu amigo, o coração dói e reflete no cérebro e em todos os outros órgãos.
Os velhos hebreus tinham razão.
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Tá bom, mas como um cafajeste pode ter coração? Isso não seria contraditório?
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Não, agora quem faz poesia é você. Até mesmo o cafajeste não pode se livrar do
coração, pois este está em suas entranhas. Um homem sem coração é um homem
morto. Falo de ciência, amigo, de ciência!