terça-feira, 21 de março de 2017

Coração




 a Edmondo Amicis




- Você pode ser um tremendo cafajeste, mas não pode deixar de ter coração!
- Como assim? Cafajeste com coração? Você fala do sentimento ou do órgão?
- Isso mesmo, falo do sentimento que vem do órgão.
- Ah, isso é poesia!
- Não, não é poesia, meu amigo.
- Como não? Os sentimentos vêm do cérebro e não do coração.
- Engano seu, engano seu. Diante de uma injustiça o que lhe dói: a cabeça ou o coração? Onde você sente a pontada? O que acelera: o cérebro ou o coração?
- Ah, mas o coração acelera como reflexo provocado pelo cérebro! Isso é poesia!
- Não, meu amigo, o coração dói e reflete no cérebro e em todos os outros órgãos. Os velhos hebreus tinham razão.
- Tá bom, mas como um cafajeste pode ter coração? Isso não seria contraditório?
- Não, agora quem faz poesia é você. Até mesmo o cafajeste não pode se livrar do coração, pois este está em suas entranhas. Um homem sem coração é um homem morto. Falo de ciência, amigo, de ciência!

A primeira edição

          Assim se deu o diálogo entre dois velhos amigos: - É apenas um livro. - Não, não é apenas um livro, mas a primeira e...