sábado, 8 de julho de 2017

A religião é um canto...




- Você na missa? Você não é agnóstico?
- Sim. Não.
- Sim e não?
- Sim, sou eu na missa. Não, eu não sou agnóstico.
- Ah, entendi. Como não é agnóstico? Você vive criticando a igreja, o clero e os fiéis.
- Sim, é verdade. Mas o agnosticismo não tem relação com essas amenidades humanas. O agnosticismo é uma dúvida racional sobre a existência ou não de deus ou deuses.
- Ah, sim. É o sujeito que fica em cima do muro, não?
- Bem, não o vejo assim. Acho até mesmo um sujeito razoável. Um sujeito pragmático que não quer se comprometer com coisas que não têm respostas ou resposta.
- Sei, apenas uma maneira bonita de se referir a ficar em cima do muro. Mas o que você faz aqui, na igreja durante a missa já que critica tanto os religiosos?
- Sim, parece uma auto-contradição, não? Bem, não parece, na verdade é uma mesmo. Mas venho aos domingos na primeira missa por causa do canto gregoriano.
- Ah, entendi. Na verdade você apenas dissimula rebeldia.
- Não, meu caro, não sou rebelde. Sou até mesmo bastante conservador em questões de moral. Venho apenas por causa da música. E isso não é uma parte eclesiástica de minha existência, mas apenas um sentimento estético.
- OK, mais uma maneira bonita...
- Não, acredite, eu digo a verdade. A música é alimento para a minha imaginação, para minha atividade criativa.
- Você é um artista?
- Sim, sou um artista independente.
- E qual a sua arte?
- Escrever contos. Sou contista.
- E isso conta?
- Para mim, sim. Muitos artistas famosos eram contistas e foram reconhecidamente célebres por esta arte.
- É verdade.
- Agora se o amigo me der licença está na hora do miserere e preciso terminar esse conto.
- Ah, sim, a vontade.

A primeira edição

          Assim se deu o diálogo entre dois velhos amigos: - É apenas um livro. - Não, não é apenas um livro, mas a primeira e...